Sintoma ou sinal?

Sintoma também é uma palavra de origem grega (súmptōma = coincidência), sendo a sua conceituação divergente entre diferentes escolas e, consequentemente, entre diferentes profissionais. 

Para a medicina humana, sintoma é uma sensação subjetiva anormal, sentida pelo paciente e não visualizada pelo examinador (dor, náuseas, dormência); difere do sinal, um dado objetivo, que pode ser notado pelo examinador por inspeção, palpação, percussão, auscultação ou evidenciado por meio de exames complementares (tosse, edema, cianose, sangue oculto). Na medicina veterinária, o sintoma, por definição, é todo fenômeno anormal, orgânico ou funcional, pelo qual as doenças se revelam no animal (tosse, claudicação, dispneia). O sinal, por sua vez, não se limita à observação da manifestação anormal apresentada pelo animal; envolve, principalmente, a avaliação e a conclusão que o clínico retira do(s) sintoma(s) observado(s) e/ou a partir de métodos físicos de exame. É um elemento de raciocínio. Ao palpar uma determinada região com aumento de volume, na qual se forma uma depressão que se mantém mesmo quando a pressão é retirada, por exemplo, o diagnóstico sugestivo é de edema, resultando no que se chama de sinal de Godet positivo. O sintoma, nesse caso, é o aumento de volume, que, por si só, não o caracteriza, pois pode ser tanto um abscesso quanto um hematoma. O examinador, por meio de um método físico de exame (palpação), obtém uma resposta e utiliza o raciocínio para concluir que se trata de um edema.

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Divisão da Semiotécnica.

Atualmente, na medicina veterinária, existem diferentes correntes de pensamento, de acordo com a escola que se segue (americana ou europeia): Sintoma é um indício de doença; sinal é o raciocínio feito após a observação de um determinado sintoma Sintoma é um fenômeno anormal revelado pelo animal; o sinal é constituído de todas as informações obtidas pelo clínico a partir do seu exame Não existem sintomas em medicina veterinária, tendo em vista que os animais não expressam verbalmente o que sentem. Para os seguidores dessa corrente, todas as manifestações objetivadas pelo paciente e obtidas por intermédio dos métodos de avaliação clínica são simplesmente sinais

Obviamente, este tipo de discussão desperta dúvidas não apenas nos alunos de graduação, mas também nos profissionais, visto que a maioria utiliza os termos sintoma e sinal como sinônimos na rotina prática, sem atender a qualquer linha de pensamento anteriormente descrita. Uma padronização dos mais variados termos médicos pelas diferentes escolas tornaria as várias denominações mais facilmente entendidas e aceitas. 

Glossário semiológico 
Saúde: estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais estão em situação normal; estado do que é sadio ou são. 

O reconhecimento correto e oportuno das enfermidades, com o objetivo de adotar as medidas adequadas de tratamento, depende da percepção dos sintomas. Nesse sentido, é necessário considerar as mais variadas facetas que apresentam, sabendo que um único fator pode culminar no aparecimento de diferentes sintomas e, de modo inverso, um determinado sintoma pode se manifestar em decorrência das mais variadas causas. Diversos tipos de classificação de sintomas são descritos na literatura, dentre os quais se destacam: (1) sintomas locais; (2) gerais; (3) principais; e (4) patognomônicos.

Glossário semiológico 
Doença: evento biológico caracterizado por alterações anatômicas, fisiológicas ou bioquímicas, isoladas ou associadas. 

Os sintomas locais são assim denominados quando as manifestações patológicas aparecem claramente circunscritas e em estreita relação com o órgão envolvido (claudicação em casos de artrite séptica interfalângica distal; hiperemia da conjuntiva palpebral por irritação). Os sintomas gerais são manifestações patológicas resultantes do comprometimento orgânico como um todo (endotoxemia) ou por envolvimento de um órgão ou de um determinado sistema, levando, consequentemente, a prejuízos de outras funções do organismo (neoplasia mamária com posterior metástase para pulmões). Os sintomas principais, por sua vez, fornecem subsídios sobre o provável sistema orgânico envolvido (dispneia nas afecções pulmonares; alterações comportamentais por envolvimento do sistema nervoso). Existem, ainda, os chamados sintomas patognomônicos ou únicos, os quais somente pertencem ou representam uma determinada enfermidade. Em medicina veterinária, se existem, são extremamente raros. Um exemplo descrito como clássico é a protrusão da terceira pálpebra em equinos, nos casos de tétano. Os sintomas podem ser classificados: Quanto à evolução: Iniciais: são os primeiros sintomas observados ou os sintomas reveladores da doença Tardios: quando aparecem no período de plena estabilização ou declínio da enfermidade Residuais: quando se verifica aparente recuperação do animal, como as mioclonias que ocorrem em alguns casos de cinomose Quanto ao mecanismo de produção: Anatômicos: dizem respeito à alteração do formato de um órgão ou tecido (esplenomegalia, hepatomegalia) Funcionais: estão relacionados com a alteração na função dos órgãos (claudicação) Reflexos: são chamados, também, de sintomas distantes, por serem originados longe da área em que o principal sintoma aparece (sudorese em casos de cólicas; taquipneia em caso de uremia; icterícia nas hepatites).

FEITOSA, F. L. F. Semiologia Veterinária: A arte de Diagnóstico



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